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A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO

A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO
Autor: Nuno A. G. Bandeira

Tradutor

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

UMA ALCÁCER-QUIBIR NO MAR: A NOITE EM QUE PORTUGAL PERDEU A SUA ARMADA

Foto de Nova Portugalidade.

O maior desastre sofrido pelos portugueses no mar conhecemo-lo, não contra frota de outra bandeira, mas frente à força imparável dos elementos. Foi, como lhe chamou Dom Francisco Manuel de Melo, que seguia na desafortunada armada, "a maior perda desde o desastre de Dom Sebastião". Num dia, naufragou grande parte da marinha portuguesa.

Em finais de Setembro de 1626, regressados do Brasil os navios que haviam reconquistado para Portugal a cidade de São Salvador da Bahia, saiu do Tejo para os Açores a frota que devia garantir o são regresso da armada da Índia. O capitão era Dom Manuel de Meneses, que no ano anterior recuperara com Dom Fadrique de Toledo o referido porto da Bahia. A frota conheceu repetidas peripécias ao longo da malograda viagem. A 30 de Setembro, cruzavam-se com a frota castelhana de Cádis, exigindo-lhes esta que as naus de Portugal arreassem a bandeira própria por respeito à da monarquia - a dos Habsburgos -de que Portugal era também parte. A arrogante exigência foi clamorosamente rejeitada, explicando-se aos vizinhos impertinentes - que à data connosco partilhavam o Rei - que o estandarte naval por nós usado era português e da Cruz de Cristo, o que eram dois bons motivos para que não se aceitasse a precedência de outra bandeira. Segundo conflito apareceria, pouco depois, ao recolher a Armada de Portugal duas naus da Armada da Índia. De Madrid, pedia o Rei Filipe II, III de Castela, que lhe fossem enviados rapidamente e via Cádis os diamantes transportados pelas embarcações. Dom Manuel de Meneses mandou responder que os navios de Portugal seguiam para portos portugueses e não para outros, e que o Rei devia, caso quisesse as pedras indianas, pedi-las directamente a Lisboa.

A armada de Portugal deu por concluída a missão pelo dia de Natal. Decidiu então Meneses, tendo já recolhido todos os navios chegados da Índia, dirigir-se com as duas armadas para Lisboa. Lá teria chegado se a frota não houvesse sido surpreendida por tormenta inclemente que, dividindo-a e furtando-a de vontade própria, a fez rumar a Bordéus. Era pela costa francesa que andavam os nossos navios quando, a 10 de Janeiro de 1627, foram engolidos um a um pelas ondas. Entre as perdas mais dolorosas, a de duas enormes carracas, cada uma de quase duas mil toneladas, que sozinhas transportavam carga de mais de três milhões de cruzados, soma que hoje equivaleria a vários milhares de milhões de euros. Em cada uma, seiscentos marinheiros e para cima de cinquenta peças de artilharia. Nem armas, nem carga, nem homens se salvaram da fúria do mar. Da armada que saíra de Lisboa para recolher a frota da Índia, foi-se a nau almiranta, navio de 500 infantes e 49 canhões, o São Filipe, de 28 peças e a capitânia, que levou consigo 60 canhões e 479 homens. Naufragou ainda o São José e a Santa Isabel, sobrevivendo a maior parte da tripulação do primeiro e perecendo a totalidade do segundo. Perdia-se em instantes o melhor da Marinha e milhares de marinheiros experientes e habituados à vida oceânica. Da tragédia escreveria Francisco Manuel de Melo nas suas "Epanáforas de vária História portuguesa" que se haviam perdido "tantos pilotos e marinheiros expertos que são as alfaias mais importantes ao adorno e utilidade de uma república".

Não se encontram suficientemente estudados os efeitos do desastre de 1627 sobre o poder naval de Portugal. Parece ao autor destas linhas que os sucessos da Holanda no Oriente não poderão ser dissociados de embate tão duro e repentino como o que foi, para Lisboa, a perda de boa parte da sua marinha na Biscaia. De um momento para o outro, e justamente quando se extremava a luta com a Holanda calvinista pelo controlo do comércio global, Lisboa viu-se privada dos seus melhores navios, de grande parte do seu braço naval e de porção apreciável de tripulações e oficiais de rica experiência marítima. As Províncias Unidas parecem ter usado o intervalo temporal entre o desastre de 1627 e a recuperação da Armada para o sucesso decisivo que seria a conquista, em 1630, da cidade de Recife, que serviria de capital ao Brasil holandês até 1654.

RPB

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