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A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO

A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO
Autor: Nuno A. G. Bandeira

Tradutor

sábado, 3 de fevereiro de 2018

O MOSTEIRO DE SÃO BENTO DO RIO DE JANEIRO

Foto de Nova Portugalidade.

No Rio de Janeiro a obra de arquitectura que mais marcou o século XVII foi a do mosteiro de São Bento. Felizmente, é muita a documentação que se conserva, nomeadamente, o “Dietário”, podendo conhecer-se o ritmo da construção e engrandecimento, os seus encomendantes, os seus autores e, em muitos casos, até os preços. É um dos edifícios portugueses barrocos que está melhor documentado.

Os primeiros monges beneditinos chegaram, vindos de Salvador, em 1586, estabelecendo-se no Morro do Castelo. Em 1617 ou 1618, o engenheiro Francisco de Frias Mesquita, que estava encarregado das defesas da cidade, fez o primeiro plano que, no entanto, não foi levado até ao fim. As fundações do mosteiro primitivo propriamente dito foram começadas, em 1633 e, em 1641, a capela-mor estava acabada. A igreja tinha uma capela-mor e um corpo com nave única, ao todo com três altares, um corredor de cada lado, a sacristia e uma galilé, além de uma fachada era enobrecida por duas torres sineiras.

Em meados do século XVII, frei Manuel do Rosário, natural de Buarcos, que fazia também de arquitecto, dava fim às obras começadas pelo abade frei Francisco da Madalena, em 1652, concretamente, na zona conventual virada para a cidade. Os projectos de engrandecimento recomeçaram com a direcção de frei Bernardo Correia de Sousa, que entrara para a ordem de São Bento, em 1668, quando já exercia funções de engenheiro, tinha a patente de alferes e trazia uma larga prática. Em 1670, preparou um plano geral de reforma da igreja, que incidia sobretudo na cabeceira, alargando também o arco triunfal, e fazendo uma nova e mais avantajada sacristia, por trás da capela-mor. Apesar dos avanços e recuos, e mesmo da tentativa do abade frei Bento da Vitória, para deitar abaixo o templo, por o achar muito modesto, certo é que o frade transmontano continuou a dirigir as obras, e a por em prática o seu plano, até 1693, ano em que faleceu.

Sabemos que, em 1669, se acabou a fachada principal, que nos anos seguintes fechou as abóbadas da galilé e que, em 1676, se começou a alargar o arco-cruzeiro; em 1691, toda a obra estava concluída, de acordo com o projecto de 1670. 

A igreja ficou com uma nave central alta e larga e duas naves laterais que se confundem com capelas comunicantes, já que são muito mais baixas do que a média, para permitir a circulação superior, em duas galerias que abrem para o corpo do templo, embora os seus arcos de comunicação tenham suficiente amplitude, para esclarecer qualquer equívoco.

Da zona habitacional destaca-se o grande claustro, uma construção muito sóbria e cuidada, que foi começada, em 1743, e que é habitualmente atribuída a José Fernandes Pinto de Alpoim, que terá respeitado as propostas de Francisco de Frias, para o piso térreo. O interior da igreja beneditina é um dos melhores repositórios de talha, no Brasil. Naturalmente que nem tudo o que foi feito permanece, até porque, no fim do século XVIII, algumas obras dos finais de Seiscentos foram remodeladas. É possível, que o programa decorativo tivesse sido pensado por frei Bernardo de São Bento, falecido em 1693.


O revestimento de talha foi da responsabilidade de frei Domingos da Conceição da Silva, um artista natural de Matozinhos, que antes de envergar o hábito beneditino já servia a ordem, havia duas décadas. É possível, no entanto, que a traça geral, que o programa decorativo, tivesse sido pensado por frei Bernardo de São Bento, falecido em 1693. No Dietário do mosteiro anota-se que foi frei Domingos da Conceição "... que fez em madeira tudo o que vemos riscado na planta deste mosteiro ...", o que teria ocorrido entre 1669 e 1673, isto é, fez uma maqueta ou abreviado mosteiro, como refere, que teria sido seguida no essencial, durante as décadas posteriores. Qual foi efectivamente o trabalho do religioso é ainda hoje uma questão em aberto, mas é seguro que foi ele quem começou a obra que chegou até nós, pois por um contrato celebrado, em 27 de Julho de 1717, o entalhador Alexandre Machado Pereira comprometeu-se a acabar, no prazo de quinze anos, a talha da nave, em conformidade com a dos arcos das capelas de São Cristóvão e Nossa Senhora da Conceição.

Os pilares das naves foram já executados por outros entalhadores, mais novos e mais modernos, contratados em 1734, certamente também os autores das esculturas evocativas dos Padres da Igreja, dos Reis e Imperadores do Antigo Testamento, os escultores Conceição da Silva e Simão da Cunha, este último natural de Braga, ainda activo em 1773. No mosteiro, há uma outra obra de “estilo nacional”, o altar da sacristia, de 1717, que engloba a famosa pintura de Cristo executada por frei Ricardo do Pilar.

A obra da igreja beneditina do Rio de Janeiro constitui um marco na evolução da talha da terra do Brasil, que adoptou os ritmos e gostos desta disciplina no norte da parcela europeia de Portugal. Todo o espaço até ao arranque da abóbada de berço está revestido, abrindo-se generosas tribunas que rompem a monotonia dos muros e ocupam em superfície o espaço das naves laterais. Os pilares são de excepcional elegância, com acantos vigorosos de onde saem graciosos anjos de vulto perfeito ou estátuas monumentais enquadradas por nichos, nos flancos virados para o centro. O arco cruzeiro mostra hoje uma composição mais tardia, de estilo rococó, condizente com o monumental altar-mor, que possui um amplíssimo camarim dotado de um trono eucarístico para exposição do Santíssimo Sacramento, obra do entalhador Inácio Ferreira Pinto, que o fez, entre 1787 e 1789. A este festim barroco acrescem peças de menor volume, como as grades da capela do Santíssimo Sacramento, os fantásticos lampadários de prata, cujos moldes foram executados por Mestre Valentim, e o guarda-vento datado de 1733.

Pedro Dias, Professor Catedrático da Universidade de Coimbra

Foto de Nova Portugalidade.

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